segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Eduardo, a quem compete?



Ontem vimos o Eduardo.
Veja também em http://sandrowagner.wordpress.com/

Eduardo estava no "Limbo" - negro, 32 anos, aidético, paraplégico, desnutrido, sem endereço, sem nome da mãe, sem data de nascimento. Local do encontro: calçada, debaixo da marquise da padaria em frente a igreja na qual congrego.

Ninguém sabia muito bem a que horas ele havia chegado ali, se pela manhã, se madrugada, se dia anterior, nem como chegou ou se fora deixado. Sabe-se que quando chegou tinha uma cadeira de rodas e esta lhe foi roubada ... talvez algum 'ganho'! E ali estava o Eduardo, deitado na mesma posição, sem conseguir tomar o lanche que alguns lhe ofereceram.

Ninguém podia levar o Eduardo, ou melhor, ele não se encaixava em nenhum PROTOCOLO.

A Assistência Social do município estava lá, mas verificou que o caso era muito sério para eles o removerem pois nenhuma instituição o iria receber naquelas condições. Constatou que deveria ser levado ao hospital e não eram eles autorizados a fazer esta remoção.

O Bombeiro relutou em ir. E quando o médico do bombeiro esteve lá, examinou e constatou que também não era caso para o bombeiro pois ele estava lúcido, sem febre ... Eduardo gemia, gemia de dor a cada intervençao que o médico fazia ... Mas o Corpo de Bombeiro reconheceu sua "IMPOTÊNCIA". - "se o levarmos para algum hospital vamos ser recebidos com sete pedras nas mãos pelos médicos. Eles não vão aceitar ele... não é o caso de nós o removermos!!

Aí, depois de algumas ligações, pessoas insistindo, um outro contato, um conhecido que conhece mais um que lembra de outro ...

Chegou também a SAMU, que disse que o Eduardo também não era seu caso - pois esta instituição tem em seu protocolo apenas a regulação ou remoção de quem tem constatado ao menos 30 minutos de vida. Não era este o caso do Eduardo, o caso dele não era de emergência , nenhum hospital o aceitaria ... e ele provavelmente resistiria apenas a madrugada, segundo comentário de alguns.

Ao dizerem ao Eduardo que o levariam para o CPN (hospital público) ele clamou: "pra que gente? Eles vão me mandar embora de novo!!" E pediu: "Me deixa dormir, gente, me deixa dormir!"

No final, o Bombeiro acabou removendo-o; Arriscaram o Protocolo!!

Ou seja, a quem pertence o Eduardo? As ruas!!! E a rua não cuida de ninguém, nem dos seus.

Eu não sou da sua rua,
Não sou o seu vizinho.
Eu moro muito longe, sozinho.
Estou aqui de passagem.

Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.
Estou aqui de passagem.
Esse mundo não é meu,
Esse mundo não é seu



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